Bebendo um cocktail forte com um canudo, Michael apreciava as luzes noturnas de Miami. A Flórida é bonita, pensou ele, folheando a faixa de notícias.
Ele não estava interessado em saber como o FBI descobriu um roubo em grande escala de carros de luxo no Texas. Embora a notícia de que a polícia da cidade de Plano deteve um grupo de criminosos que roubaram carros de luxo estivesse em todos os sites da Internet. Ele nem se importava que entre os veículos apreendidos — Rolls-Royce, Audi, Maserati — estivesse o seu carro. Ele se interessou por outra informação, que dizia que o Serviço Secreto dos EUA acumulou quase 400 milhões de dólares em ativos digitais e parte dos fundos está armazenada em uma carteira fria. Além disso, essa agência também devolvia fundos às vítimas de fraudes com criptomoedas. Assim, uma das maiores devoluções de fundos dizia respeito a 225 milhões de dólares em USDT, um token atrelado ao dólar, conhecido como Tether.
«A fraude com criptomoedas tornou-se a principal causa de crimes na Internet nos EUA, com perdas de 9,3 mil milhões de dólares em 2024. Os investigadores conseguiram rastrear mais uma fraude até ao nome de domínio por trás de um recurso de investimento falso na Internet. Eles descobriram quando o recurso foi registrado, por quem e como foi pago. Mas o pagamento em criptomoeda os levou a outra carteira... Uma falha momentânea na VPN revelou o endereço IP dos fraudadores na rede... Os investigadores do Centro Global de Operações Investigativas da agência (GIOC), especializado em crimes financeiros digitais, apreenderam quase 400 milhões de dólares em diversos ativos digitais apenas nos últimos anos... Mais adiante na notícia, havia uma breve descrição de como, usando ferramentas de código aberto, as autoridades policiais chegaram ao rasto dos fraudadores. Pensei comigo mesmo: a Coinbase e a Tether reconheceram publicamente a ajuda em casos recentes, fornecendo análises de rastros e congelando carteiras.
Por mais que se fale sobre formas de proteção contra fraudes com criptomoedas, as pessoas continuam sendo atraídas por «queijo grátis». É uma perda de tempo e recursos. A carteira fria de criptomoedas mais cara do serviço secreto não salvará a próxima vítima, pensou Michael.
Ele sempre usou autenticação de dois fatores e carteiras frias para armazenar grandes quantias. Além disso, Michael verificava minuciosamente as fontes de informação, sites, contratos e bolsas de criptomoedas. Mesmo aqueles cujos serviços utilizava há muito tempo. Há muito tempo que tinha chegado à conclusão: se algo parece bom demais para ser verdade, provavelmente é uma fraude.
Ele pediu mais um cocktail e voltou a olhar para o monitor do portátil. É hora, pensou ele e pressionou a tecla «Enter». Assim, direcionou mais uma vítima para o site de investimentos em criptomoedas. Já é a terceira hoje, pensou ele. E a vítima já estava fisgada. O primeiro depósito mostrou um lucro modesto. O seguinte também. A vítima, encorajada, enviou mais dinheiro, chegando mesmo a pedir emprestado para não ficar para trás.
Então, sem aviso prévio, a plataforma deixará de responder e o saldo da conta desaparecerá. Entretanto, Michael «desaparecerá» algures no México...